Fenômeno editorial mundial, “O Pequeno Príncipe” completa 80 anos no dia 6 de abril. A obra do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry já vendeu mais de 150 milhões de exemplares, tornando-se um dos livros mais traduzidos do mundo, depois da Bíblia. O seu texto simples, poético e filosófico permanece no imaginário e nos corações dos leitores ao longo das décadas.
Foi publicado quase simultaneamente em inglês, em 6 de abril de 1943, e em francês, em 20 de abril, em Nova York, pelos editores Reynal & Hitchcock. Só no final da 2ª Guerra, que “O Pequeno Príncipe” foi lançado na França, pela editora Gallimard, em 1946, postumamente. O escritor e aviador Antoine de Saint-Exupéry desapareceu no mar, em julho de 1944, durante um voo de observação, aos 44 anos.
“O Pequeno Príncipe” foi originalmente encomendado para ser uma história de Natal. Em 1942, os editores nova-iorquinos Reynal & Hichtcock encomendaram a Saint-Exupéry, conhecido além do Atlântico pelo sucesso de sua coletânea de ensaios “Terra dos Homens, um texto destinado a elevar o moral das pessoas no contexto sombrio da Guerra. Mas, ele só conseguiu terminar a escrita do texto em 1943. Na França, quando Gaston Gallimard assumiu a publicação do livro, planejava publicá-lo para as festas de fim de ano, no final de 1945. Isso sem contar com a demora na costura e encadernação. Porém, a edição francesa só saiu em abril de 1946.
O livro conta a história de um aviador (alter ego de Saint-Exupéry) que pousa no deserto do Saara e encontra um menino loiro, que lhe pede que desenhe uma ovelha para ele. Este, dia após dia, acaba por lhe contar a sua história, o planeta de onde vem, as suas aventuras, a sua descoberta do amor por meio de uma vaidosa rosa e lhe confidencia a sua busca perpétua pela amizade e sua perplexidade perante as atitudes dos homens.
Antoine de Saint-Exupéry publicou o livro, inspirado na morte de seu irmão François, quando o autor tinha apenas 17 anos. A partir desse episódio, em muitos textos que escreveu, a infância convive em paralelo com a morte. Uma das interpretações de “O Pequeno príncipe” é de que se trata de uma parábola sobre a morte.
Infância e morte: dois temas universais, duplicados pelo sentimento de solidão e pelo desejo de amar e ser amado, que fazem O Pequeno Príncipe um texto filosófico e poderoso, cativando jovens e adultos, tornando-se assim um fenômeno literário universal.
A força do livro reside, além de suas palavras, em suas aquarelas, assinadas pelo próprio autor. No decorrer das páginas, seu personagem central não é mais definido por suas perguntas e pelas histórias que conta, mas pela forma como ele mesmo é representado. Cabelos loiros e espessos, roupa verde-clara, laço vermelho ou lenço amarelo no pescoço, o Pequeno Príncipe também é acompanhado por sua amiga Raposa, vive em um planeta cinza que parece estar murchando e onde algumas flores crescem aqui e ali...
Cada desenho é uma alegoria, assim como as muitas máximas que povoam a narrativa. Porque, se O Pequeno Príncipe também é um clássico, é também graças a estas frases que nos acompanham a vida toda: “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos” ou “Você se torna eternamente responsável pelo que cativou”.
O Pequeno Príncipe é uma história infantil dirigida aos adultos, não só porque aborda muitos dos elementos da realidade que nos disseram para aceitar e crescer, mas também porque requer o uso de uma ferramenta que muitas vezes esquecemos: a nossa imaginação. Nossas sociedades modernas tentam nos obrigar a nos impor ordem, lucratividade, tudo relacionado ao quantificável, tal qual Saint-Exupéry escreve nesse romance: “Os adultos gostam de números”. Tudo isso nos permitiria alcançar a felicidade e, no entanto, nos encontramos em uma busca sem fim. Para o piloto, fica um pouco dessa busca pela volta à infância. Existe um poder dos adultos que quer acabar com a infância, com a inocência. Mas, à medida que crescemos, perdemos nossa inocência, desenvolvemos complexos, que tentamos esconder. Enquanto as crianças não escondem quem são, elas se revelam facilmente. O pequeno Príncipe desperta em nós, por alguns instantes, a nossa criança interior; auxiliando na fuga momentânea de uma realidade atroz, esmagadora; e permitindo imaginar, maravilhar-se e amar. Embora tenhamos crescido, ainda podemos ser crianças. Trata-se de relembrar nossa infância, estar em sintonia com ela. E esse é o presente desse livro: nos dar a oportunidade de ser um pouco menos adultos.
O Pequeno Príncipe nos cativa pela pelos valores e pela mensagem de esperança que transmite. É um livro que se passa adiante, se dá de presente e se compartilha.
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