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A parábola dos cegos


Pieter Bruegel, “Parábola dos cegos”, Museo Nazionale di Capodimonte, Nápoles, 1568.


"Parábola dos cegos" (1568), de Pieter Bruegel, é uma pintura que nos causa perturbação. Por que temos esse sentimento ao vê-la? O título do quadro, além de expressivo e simbólico, nós dá chaves importantes para a sua compreensão. É uma representação da narrativa bíblica do "Novo Testamento", a partir de Lucas 6, versículo 39. No contexto bíblico, Jesus estava falando para a multidão, quando se utiliza da parábola para criticar os "fariseus", isto é, os animadores das comunidades que se consideravam donos da verdade, superiores aos outros. Jesus introduz, assim, sua fala: "- Pode porventura o cego guiar o cego? Não cairão ambos na cova?"

Bruegel trouxe o tema da parábola para sua época. O que nos choca é o tom de catástrofe iminente, pois vemos uma procissão de cegos que vão se guiando na fila, segurando na mão ou no cajado do outro. O primeiro está caído no rio, o segundo tropeçou e o terceiro está prestes a tropeçar. O personagem mais expressivo é o quarto, porque sua angustia reside no fato de que ele percebeu que os seus guias caíram e que cairá também. Ele também sabe que os cegos de trás si não desconfiam de nada. Se observarmos os seis cegos, percebemos que a gradação dos sentimentos é assinalada pelas variadas fisionomias.

Diante dessa cena, pintada com um extremo senso de fatalidade, constatamos que o pintor nos expressa que a queda é inevitável. No quadro, há uma mistura entre o trágico e o ridículo. O contexto sócio-histórico contribui para a nossa compreensão. No final da Idade Média e durante Renascimento, nas grandes cidades, os cegos eram vistos e tratados como vagabundos e mendigos. Na pintura, os cegos são retratados com roupas sujas e maltrapilhas e, portando, instrumentos para atrair piedade e compaixão das pessoas. Na época de Bruegel, a atuação artística dos cegos pedintes era um espetáculo banal.

Além de retratar a vida dos camponeses, Bruegel também se notabilizou por pintar temas bíblicos. Na Parábola dos cegos, percebemos que não se trata apenas da cegueira física, mas da espiritual. O quarto cego parece estar acometido de uma atrofia do olho e a expressão de seu rosto demonstra angústia e desespero, tornando-o uma espécie de símbolo da condição humana. O quadro apresenta uma visão trágica da existência. A cegueira também indica tolice e ignorância, quando acreditamos em ideias vãs e pseudoverdades e nos deixamos guiar por tolos e falsos líderes.

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