Hoje, 29 de maio, é aniversário de Adolfo Caminha, grande escritor cearense e membro da Padaria Espiritual
Natural do Aracati, após perder a família em virtude da seca de 1877, vai para o Rio de janeiro morar com o tio. Aos dezesseis anos ingressou na Escola da Marinha, de onde saiu como oficial aos vinte anos, em 1887. No ano seguinte, transfere-se para Fortaleza, onde se apaixona por Isabel Jataí de Paula Barros, esposa de um oficial do exército. Por conta do escândalo, foi forçado a pedir demissão da Marinha, e assume compromisso com Isabel. Nos primeiros anos da década de 1890, tem uma intensa atividade jornalística na capital cearense, participando da já citada Padaria Espiritual. No fim de 1892, muda-se para o Rio de Janeiro, onde se emprega na Fazenda Federal. No ano seguinte, publica o romance A normalista que tem uma boa acolhida pelo público.
Segundo Frota Pessoa: “A sua vida misérrima de empregado público ia sendo arrastada com mil pequenas privações. A família cresceu-lhe, vieram-lhe os filhos, e o ordenado tornava-se insuficiente para os mais urgentes gastos. Os martírios dessa fase da sua vida são pungentes. Publicou, apesar de tudo, mais dois livros, Bom Crioulo e Cartas literárias. escreveu a Tentação e os Pequenos contos, começou a Trad. do teatro de Balzac, lançou as bases de duas obras de fôlego, Ângelo e O Emigrado, e fundou a Nova Revista, que saiu à luz por quase um ano” (1902, p. 222-223).
Depois de muitas dificuldades, com a saúde precária, falece de tuberculose em 1897, aos 29 anos. Segundo o seu confrade, Frota Pessoa, que lhe escreveu um perfil na obra Crítica e polêmica, nos relata que o escritor sempre lutou pelo reconhecimento de seu talento literário, para isso “foi o gladiador intemerato, todo de ação e de arrojos. Este não guardou consigo as suas revoltas, trouxe-as para a divulgação da imprensa e bateu-se pelas suas ideias com um ardor de propagandista”. (1902, p. 86).
[Cada escritor obedece a uma lei fatal, cada artista é, por assim dizer, um escravo de suas próprias tendências, quaisquer que elas sejam, e ninguém tem o direito de o censurar unicamente porque não escreve entre uma gramática, um dicionário, uma “rija lima de aço” e um tratado da psicologia. A forma, como a ideia, é sempre original no verdadeiro artista. [...] escritor possui talento, é um espírito superior dominado pela ambição de deixar uma obra rara, e neste caso, saberá exprimir numa linguagem superior e artística, as menores vibrações de sua alma, ou é um medíocre, um ambicioso vulgar, um imitador irresponsável, simbolista hoje, amanhã naturalista, depois de amanhã qualquer outra cousa... e então só merece o desprezo, a indiferença dos contemporâneos. A forma é quase tudo na Arte, dizem; creio, porém, que a sinceridade é tudo...] Trechos da obra Cartas Literárias.
O crítico cearense Araripe Júnior sobre A normalista (1893), de Adolfo Caminha:
“Quem quiser conhecer a cidade de Fortaleza e intoxicar-se um pouco com a barbaria semi-civilizada de uma capital provinciana, onde reina o babismo em todo o seu furor, não tem mais do que abrir o livro de Adolfo Caminha e entregar-se à leitura de suas páginas sem preocupação de crítico. Reproduzo o que escrevi algures. Enquanto se lêem aquelas páginas, vive-se um pouco no Ceará. Os acidentes físicos estão todos nos seus lugares. As ruas principais da cidade, o Passeio Público, o Trilho, o Pajeú, o Mucuripe, surgem aqui, ali, sugestivos e pitorescos. Os aspectos particulares dos costumes cearenses confundem-se a todo instante com a ação do romance.”
JUNIOR, Araripe. “Movimento literário do ano de 1893”. In: Obra crítica de Araripe Júnior. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Casa de Rui Barbosa, 1863. v. III. p. 171.
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