Previamente, podemos entender que os atos de leitura e de interpretação literária são processos comparativos, pois comparar é um procedimento que faz parte da estrutura do pensamento humano, ou seja, estabelecer analogias, situar e contextualizar o objeto apreendido pela cognição com ideias, formas e experiências anteriores. Por exemplo, Aristóteles, em sua Poética, para definir o "trágico" e distingui-lo do "épico' e da "comédia", teve que ler, descrever e analisar textos de variados poetas gregos.
Originalmente, Literatura Comparada significava uma investigação que confrontava obras literárias de mais de uma tradição linguística-nacional. Segundo Tânia Carvalhal, o surgimento da Literatura Comparada está vinculado à corrente de pensamento cosmopolita que caracterizou muitos países europeus, no século XIX, período em que pensadores e cientistas realizavam comparações entre estruturas ou fenômenos análogos, a fim de buscar leis gerais. No âmbito literário, estudavam-se obras de dois ou mais países e suas relações recíprocas e influências. Os estudos comparativos em literatura floresceram na França, na Inglaterra, na Alemanha e na Itália.
No século XX, os Estados Unidos se constituem como um grande polo de estudos comparativos, devido à chegada de estudiosos literários europeus como Erich Auerbach, Leo Spitzer, Ernst Robert Curtius e Ernst Kantorowicz, entre outros. Ao longo do século, tanto na Europa, quanto nos EUA, abundaram teorias que ampliaram o escopo do comparatismo literário, tais como o Marxismo, a Psicanálise, o Estruturalismo, a Semiótica, a Estética da Recepção, a Intertextualidade, Desconstrução, os Estudos culturais, etc.
Enquanto a Literatura Comparada ainda pode implicar o estudo da literatura de diferentes países, diferentes contextos socioculturais e gêneros literários, o campo de estudos evoluiu e se ampliou em uma abordagem metodologicamente autoreflexiva, que explora as relações entre a Literatura e outras formas de expressão cultural.
A Literatura Comparada coloca questões como: qual é o lugar da literatura na sociedade? Como a literatura enquanto forma estética muda ao longo do tempo e em relação a outras formas de artísticas? Como a literatura molda e responde a valores, movimentos sociais ou contextos políticos?
A pesquisadora Leyla Perrone-Moysés enriquece a nossa perspectiva, no ensaio "A criação do texto literário", ao nos alertar que
"estudando relações entre diferentes literaturas nacionais, autores e obras, a literatura comparada não só admite, mas comprova que a literatura se produz num constante diálogo de textos, por retomadas, empréstimos e trocas. A literatura nasce da literatura; cada obra nova é uma continuação, por consentimento ou contestação, das obras anteriores, dos gêneros e temas já existentes. Escrever é, pois, dialogar com a literatura anterior e com a contemporânea" (1990).
Percebemos que nenhum poeta é isolado, ele só tem significado quando é posto em diálogo com outros poetas, quer seja contemporâneos, do seu campo literário, quer seja de tempos passados, constituindo tradições literárias que são redesenhadas a cada geração. Estudar essas complexas relações e tensões é a missão árdua do comparatista. George Steiner nos fala que a Literatura Comparada é uma arte exigente de leitura, porque toda leitura implica em um mergulho na história e nos fundamentos da linguagem.
Se você tem interesse em literatura e no estudo de línguas, tanto a vernácula, quanto as estrangeiras, a Literatura Comparada será um gratificante ramo de pesquisa, pois inclui o estudo da teoria e da crítica literária histórica e contemporânea. Pelo caráter transfronteiriço e interdisciplinar do comparatismo, você terá a oportunidade de estudar textos de diversos movimentos literários, contextos culturais e períodos históricos. Ademais, se estuda a literatura em relação a outras ciências ou disciplinas, por exemplo, a Sociologia, a História, a Teologia, a Comunicação, a Filosofia, a Antropologia, a Psicologia; assim como outras linguagens artísticas, tais como o cinema, a música, a dança, a fotografia, as artes plásticas.
Portanto, no âmbito dos Estudos Literário, é importante se aprimorar como pesquisador de Literatura comparada, pois assim, haverá oportunidades de realizar investigações sobre os mais diversos aspectos da arte literária e da cultura humana.
Enfim, a Literatura Comparada é um meio, não um fim.
by Charles Ribeiro Pinheiro
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