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Resenha: “Ensino de português: do preconceito linguístico à pesquisa da língua” (2000) de Marcos Bag


(Resenha escrita em 2004 acerca de artigo publicado em 2000)

Charles Ribeiro Pinheiro

Há tempos, o ensino de língua portuguesa no Brasil apresenta problemas e contradições. Além do ainda e alarmante fato da maioria da população brasileira ter acesso a uma educação de qualidade, existe uma grande divergência entre a compreensão da linguagem oral e da norma culta, padrão escrito da língua. No Boletim Abralin Nº 25, existe um artigo intitulado "Ensino de português: do preconceito linguístico à pesquisa da língua" que traz algumas propostas para mudar o antigo tratamento que era dado à língua vernácula. O texto foi escrito por Marcos Bagno, renomado escritor, linguista, tradutor, doutor em Filologia e língua portuguesa pela Universidade de São Paulo, professor de Linguística do Instituto de Letras da Universidade de Brasília.

O artigo inicia-se com uma análise de um trecho dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) que aborda do preconceito linguístico. O autor realiza uma severa crítica ao preconceito linguístico, que é utilizado como uma justificativa para excluir pessoas de menor poder econômico dos direitos e bens sociais. Marcos Bagno demonstra a sua indignação contra as classes dominantes, que acreditam que são detentores de uma língua mais correta, culta.

O preconceito linguístico no Brasil é bastante peculiar, devido à duas direções: de dentro da elite para fora, contra os menos desfavorecidos, portadores de variedades não padrão; e o de dentro da elite ao redor de si mesma, devido à crença de que os brasileiros não falam corretamente o português. Essa intolerância contra a própria língua é explicada pelo autor através de um estudo do contexto histórico brasileiro. Ora, as mudanças de regime político (da Monarquia para a República) aconteceram sem a participação popular e favoreceram somente as classes dominantes. E continuou assim em muitos processos de mudança histórica. Essa pesada herança colonial tornou atroz a diferença entre os ricos e pobres, evidenciando seus efeitos sobre a língua que falamos.

No decorrer do artigo, o autor mostra um resultado de uma pesquisa efetuada com pessoas de nível superior nas capitais brasileiras, tornando evidente que esses indivíduos não usam, efetivamente, a norma padrão que tanto pregam em todas as situações de comunicação no cotidiano.

Portanto, Marcos Bagno conclui que o ensino tradicional do português é contraditório, pois é defendida uma norma padrão que se espelha no que é falado e escrito em Portugal, enquanto a população brasileira, tanto rica e pobre, comunica-se através de um português que se utiliza de formas não padrão e intuitivas.

O texto finaliza-se com uma série de sugestões para os professores de língua portuguesa. São propostas que tendem a valorizar as variedades não padrão do português brasileiro e estudá-la em sala de aula, incentivar as atividades de pesquisas e desconstruir a ideologia linguística preconceituosa e conservadora que vigora até hoje em nosso país.

O que falta no artigo é um número maior de resultados da pesquisa citada sobre o uso efetivo da língua para sedimentar mais os argumentos do autor. Apesar do caráter militante e contrário à hegemonia da norma padrão, que possa favorecer uma possível 'coloquialização' da língua, o autor não impõe nenhuma mudança radical.

Marcos Bagno propõe sugestões aos linguistas, professores de língua e educadores, que embora pareçam utópicas, podem ser realizadas aos poucos e têm validades plausíveis. O artigo é um ótimo instrumento de reflexão que nos leva a repensar os nossos conceitos sobre o ensino de língua portuguesa no Brasil. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BAGNO, Marcos: Ensino de português: do preconceito linguístico à pesquisa da língua. In: ABRALIN: Boletim da Associação Brasileira de linguística/Associação Brasileira de linguística. N° 25. Fortaleza: Editora UFC, 2000.

________. O preconceito linguístico. São Paulo: Editora Loyola, 1999. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1998.

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