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TODOROV E A TEORIA DO FANTÁSTICO



Introdução à Literatura fantástica é um ensaio que se tornou um clássico, de autoria de Tzvetan Todorov, teórico literário e crítico cultural. O pensador nos ensina a construir os limites de um gênero: na hesitação não resolvida do leitor entre o naturalismo do estranho e o sobrenatural do maravilhoso. O livro é importante devido à contribuição à teoria literária na forma de sua definição de fantástico na literatura. Ao discutir o fantástico, ele não está discutindo literatura de fantasia. Embora críticos de fantasia, teóricos, romancistas e fãs muitas vezes se refiram aos tropos da fantasia como fantásticos, Todorov adota a palavra como um termo explicitamente separado da fantasia. Em vez disso, a teoria do fantástico refere-se a um cânone muito menor de obras literárias.


É um termo muito específico que se coloca entre dois outros gêneros (ou estilos/tipos) literários: o estranho e o maravilhoso. O estranho é um termo originário do alemão "das unheimliche", que é experimentado ao encontrar algo que é, ao mesmo tempo, estranho e familiar. O maravilhoso, por outro lado, é a visão mais tradicional da fantasia. Todorov argumenta que o estranho é caracterizado pela resposta de um personagem - geralmente o medo - a algo aparentemente inexplicável ou impossível. Ele argumenta que o maravilhoso não exige uma resposta de um personagem, apenas que o evento fantástico ocorre.


O fantástico é definido como um momento de hesitação entre crença e descrença do sobrenatural. É uma forma literária muito frágil, pois pode balançar facilmente de um lado para o outro. Como Todorov diz: "O fantástico ocupa o tempo desta incerteza. Assim que se escolhe uma das duas respostas, deixa-se o terreno do fantástico para entrar em um gênero vizinho: o estranho ou o maravilhoso. O fantástico é a vacilação experimentada por um ser que não conhece mais que as leis naturais, frente a um acontecimento aparentemente sobrenatural".


Essencialmente, para Todorov, o estranho é o sobrenatural explicado, e o maravilhoso é o sobrenatural aceito como sobrenatural. A hesitação do personagem, como a do leitor, é a chave para compreender esse fenômeno literário.


O fantástico nos põe ante um dilema: acreditar ou não acreditar? Essa é a fórmula que resume o espírito do fantástico. Fragilidade e especificidade são os principais indicadores do fantástico.


Contudo, é preciso salientar que Todorov constrói sua teoria pautado em textos épicos, contos de fadas, textos folclóricos e, principalmente, autores que escreveram entre o séc. XVIII e XIX, tais como E.T.A Hoffmann, Gérard de Nerval, Henry James, Edgar Alan Poe, Charles Dickens, Nikolai Gogol e Hans Christian Andersen. O pesquisador não vai além do século XIX.


Posteriormente, apareceram centenas de escritores que desenvolveram ficções fantásticas, em todo o mundo. Mas, Todorov, para a construção de sua teoria, só trabalhou com autores até o século XX. Isso é importante para não atribuir sua teoria a tudo. Se for usado em um debate sobre um escritor, posterior ao período investigado pelo crítico, precisamos estabelecer uma contextualização, observando suas especificidades e critérios.


Claro que há quem o considere ultrapassado, demasiado estruturalista, há detratores, há defensores. O importante é que merece ser lido e discutido.


Referência:

TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica [1970]. 4. ed., 3ª reimp. Tradutora: Maria Clara Correa Castello São Paulo: Perspectiva, 2017.










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